Falar pelo outro é sempre um risco. Principalmente quando o outro quase não tem espaços para expressar sua voz, ou por ser ainda muito pequeno e suas formas de falar ainda estarem em construção, ou, o que é mais grave, por pensarmos que esse outro, de tão pequeno, não sabe o que diz.
Da forma que vemos a criança, o infantil, essa gente pequena, balbuciante, sem voz, inocente, invisível, nasce toda a proposta de educação e cuidado construída por nós, adultos, para eles, os infantis.
PROUST e JAMES afirmam que
“é preciso ver as crianças como sujeitos ativos em face das estruturas e dos processos sociais e defendem que para estudar as culturas e suas relações é necessário sair somente da perspectiva do adulto e proceder à desconstrução de imagens mitificadas e estereotipadas acerca das crianças, que perpassam nos discursos, nas práticas e, em geral, nas formas mais variadas de representação da infância”. (apud BARBOSA, 2006, p.74)
Nossas propostas educativas para as crianças nascem da ideia que fazemos sobre as infâncias.
Para KRAMER, é imprescindível que “se compreendam crianças, jovens e adultos inseridos e produtores de história e cultura, que se concebam a infância e a adolescência como categorias sociais e não fases, efêmeras, que precisam ser aligeiradas em nome da modernidade e de sua ânsia de futuro e superação”. (1997)
Precisamos entender essas infâncias.
A infância se constitui enquanto categoria social no emaranhado de situações que são tecidas na sociedade, circunscrita a um discurso histórico, portanto, não é estável, está em permanente mudança e ruptura. Para FRABBONI a palavra infância no singular, “fala de uma criança metafórica,abstrata, a -histórica, inexistente” (apud BARBOSA, 2006, p. 73). Nessa perspectiva, a homogeneidade é um equívoco.
As concepções de criança mudaram ao longo da história e consequentemente as práticas desenvolvidas para ela e com ela. Fatores como o desenvolvimento urbano e industrial, os novos arranjos familiares ou ainda a influência das novas tecnologias, alteram o reconhecimento social da criança e a delimitação do período da infância.
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